Postagens

CONTOS DO FIM DO MUNDO #3

Imagem
E todos estavam conformados com o eminente desastre. Nibiru já se aproximara demasiadamente sobre a atmosfera terrestre, a ponto de se encandecer e se tornar envolta por uma linda, e desesperadora, manta de chamas. Algumas pessoas rezavam bastante. Outros andavam pelados pela rua. Muitos (quase todos) gritavam e choravam compulsivamente. Perto dali, no interior de Minas Gerais, estavam dois trabalhadores agonizados em seus postos de trabalho: - Rapaz, tamo fudido sô! - É rapaz, agora deu ruim. - Má não foi falta de avisá! - É verdade, o fim disso tudo já tava anunciado há uns anos! - Poisé, e ninguém quis fazê nada, ficaram aí falando que ia demorar acontecer, agora óia só! - Vô tê que ligar pra minha famía, e avisá ês! - Má o que cê vai falar pra ês homi! - SAI CORRENDO QUE A BARRAGEM ROMPEU DE NOVO!

Evasão

Pra onde vão os poetas quando a noite cai? Eles vão para o escuro de seus sonhos mais tórpidos Lá procuram o triste feixe da luz da lua E já cansados, vomitam sua dor em palavras Pra onde vão os poetas quando amanhece o dia? Eles vão para os verdes campos mais belos em seus corações Lá eles repousam e apreciam a luz do sol E já descansados, transpiram sua alegria em palavras Pra onde vão os poetas quando sofrem? Eles vão para o hímen de sua mãe E lá se cortam com os versos umbilicais Pra onde vão os poetas quando morrem? Eles vão para o inferno de chamas negras E lá eles queimam e gritam

Versos que matam versus versos que morrem

Quando poetizo, me perco em devaneios sem sentidos Produzo versos que, como lâminas cegas  Perfuram a superfície da minha pele  Lentamente e com certa cautela  Quando escrevo para a vida  Medíocre e sem sonhos  Preciso tomar um porre  E tomo uma ou algumas doses   Uma dose Nietzsche e outra de Schopenhauer  Uma dose de Monet e outra de Michelangelo E tento entender a existência de quem não pediu pra nascer  E agora morre a cada segundo sem querer morrer  Quando escrevo, sou romântico da segunda geração  Sou um paradoxo barroco sem coração  Quando escrevo sou trovador e ufanista  Quando escrevo sou classicista e modernista  Meus versos se questionam Na densa camada de silêncio delirante  Quando morrer  Vamos para o céu de Ícaro ou para o inferno de Dante?

Ensaio à Loucura

Imagem
'E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.' A famosa frase, atribuída ao filósofo prussiano Friedrich Nietzsche, ilustra de maneira espetacular o conceito subjetivo da loucura, presente na sociedade desde o mundo grego. É impossível discutir o sentido da loucura, sem entender a construção da ética e moral de uma determinada sociedade. E aqui não estamos falando de algum tipo de deficiência psíquica cientificamente estudada. Nesse artigo, caro leitor, levo em consideração o aspecto qualificativo da palavra enquanto adjetivo (pejorativo, é verdade). Inicialmente, a nível de ocidente, levamos em conta a construção de duas civilizações da antiguidade: a grega e a romana. A primeira, é o berço da nossa ética e moral, construída pela união de vários povos, como os Jônios, Eólios e Dórios. Mais tarde difundida com a cultura semita, após a conquista de Alexandre Magno, o Grande. Vários aspectos políticos e sociai

Há um muro de Berlim entre nós

Imagem
Existem vários sonhos dos quais eu não sei se quero fazer parte. Existe um mundo paralelo ao meu, que eu sequer conheço. Perguntas dos tipos existencialistas, tais quais Schopenhauer e Nietzsche me influenciam a ter, já não fazem tanto sentido. E é justamente a busca pelo 'sentido' que nos deixa louco. A busca pelo sentido nos leva a busca de uma verdade absoluta. E lamento informar: essa verdade absoluta não existe. Moldados por um fundamentalismo pré-determinado pelas gerações anteriores à nossa, somos totalmente relativistas em relação à realidade da verdade. Uma sociedade sofista talvez seja a definição de quem somos, e mais do que nunca, a retórica é o principal mecanismo da relativização de ideias em detrimento do pensamento puro, tal qual Sócrates defendia.  Talvez o sonho de uma sociedade utópica, idealizada por Thomas More no século XVI, seja o caminho que perseguimos. Obviamente, a utopia é algo impossível de se alcançar. Contudo, mesmo nunca que alçássemo

Corte a corda

Imagem
"E queria sempre achar explicação pro que eu sentia Como um anjo caído, fiz questão de esquecer Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira" Assim disse a música "Quase Sem Querer" composta por Dado Villa-Lobos e Renato Russo.  É interessante refletir um pouco sobre esses versos. Em um mundo cuja comunicação é instantânea, relacionamentos são líquidos e rasos, e a pressão sobre o jovem são enormes, sentimos uma dezena de sentimentos que nem sempre conseguimos identificar o que são. Geralmente, sentimentos que doem e nos deixam perdidos em pensamentos perigosos.  Esse é o meu caso. Talvez seja o caso de milhões de outras pessoas.  Com vastos sentimentos, sempre procurei buscar algum tipo de explicação. E para isso, expliquei criando um personagem. Nunca acreditei que era eu. Minha mente nunca me deixou acreditar. E como um anjo caído, fiz questão de esquecer quem eu era.  Eu sempre acreditei que existia o Paulo artista, mórbido, triste, q

José Luis, por que ir agora?

Imagem
José Luis, por que ir agora? Dona Fatinha te espera  lá fora Ela perguntou o que você quer no almoço Vê se para quieto em casa um pouco José Luis, por que ir agora? Ainda não parece ser a hora Jogue uma partida com seu neto Desfrute um pouco mais de todo esse afeto José Luis, por que ir agora? Ainda é cedo para ir embora Existem muitas coisas para se fazer no mundo Existem poucos dias para se viver o luto José Luis, por ti eu vivo o luto. José Luis, por ti eu vivo e luto.