Ensaio à Loucura

'E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.'

A famosa frase, atribuída ao filósofo prussiano Friedrich Nietzsche, ilustra de maneira espetacular o conceito subjetivo da loucura, presente na sociedade desde o mundo grego.

É impossível discutir o sentido da loucura, sem entender a construção da ética e moral de uma determinada sociedade. E aqui não estamos falando de algum tipo de deficiência psíquica cientificamente estudada. Nesse artigo, caro leitor, levo em consideração o aspecto qualificativo da palavra enquanto adjetivo (pejorativo, é verdade).

Inicialmente, a nível de ocidente, levamos em conta a construção de duas civilizações da antiguidade: a grega e a romana. A primeira, é o berço da nossa ética e moral, construída pela união de vários povos, como os Jônios, Eólios e Dórios. Mais tarde difundida com a cultura semita, após a conquista de Alexandre Magno, o Grande. Vários aspectos políticos e sociais têm como base a cultura helenística (nome dado à fusão cultural greco-semita).

A ascensão e, posteriormente, a queda de Roma, também deixa traços culturais marcantes em nossa sociedade, cujo principal, sem dúvidas, é a absorção do Cristianismo. 

Ambas as culturas dotadas em cima de um regime patriarcal. 

Mais tarde, a nível de Brasil, temos a escravatura negra. Gerando a cultura segregadora de raças.

Desse modo, observamos que a pouco mais de 2000 anos mantemos um certo padrão de comportamento. 

E o que seria a loucura? Em um ótica simplista, basicamente, podemos tratar como o desvio dos padrões de comportamento velados, e, ainda, regidos pela sociedade contemporânea.

De forma mais politizada, a loucura nada mais é que o afastamento do conservadorismo em detrimento do progressismo, iniciado pelos filósofos iluministas, como Vico, Kant e Condorcet, a partir do século XVII. 

Outrossim, pode-se compreender tal conceito a partir da obra satírica  'Elogio da Loucura', de Erasmo de Roterdã, célebre teólogo neerlandês do período Renascentista.

No texto, a Loucura, personificada como uma entidade viva, faz seu próprio elogio e se demonstra a imperatriz da humanidade. Em resumo, todos os desvios de padrões da época, como a guerra, as indulgências, o furto, entre outros, são desvios provocados pela Deusa Loucura, Deusa essa que domina o ser humano em tais ocasiões.

Analogamente, trazendo para o contemporâneo, os desvios que rompem o conservadorismo cristão-greco-romano são considerados loucuras, e aqueles que os rompe, loucos. 

Não obstante, é possível verificar, por exemplo, quando um grupo de mulheres que lutam pela causa feminista, expõem seus seios, são taxadas categoricamente como loucas. Obviamente, essa é uma visão etnocêntrica, e como tal, é baseada em uma ótica unilateral, não levando em consideração os conceitos na qual essa pessoa se baseia.

Não que seja fácil romper padrões conservadores, longe disso. Nós nascemos uma folha em branco, e a sociedade nos molda, como diria John Lock (iluminista inglês do século também do século XVII). Romper com algo que somos moldados desde a infância é uma tarefa das mais difíceis. Contudo, é dever do cidadão buscar a informação, e construir a sua própria ética sem que ultrapasse a fronteira chamada "outro".

Concluo que ser louco talvez não seja ruim. 
E como diria Raul Seixas:

"Prefiro ser louco em um mundo onde os normais constroem bombas".

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