Notas sobre minha vida: Tenho sonhos que jamais quis sonhar.

Existem vários questionamentos e, por consequência, teorias, à respeito do sentido dessa coisinha fascinante chamada vida. Por anos, achei que a busca excessiva por tal indagação seria uma perda total de tempo. Achava que o importante não seria descobrir o sentido da vida, e sim, apenas vivê-la. Porém hoje, assumo ser pertinente a natureza da pergunta. E mais, assumo que, provavelmente, nunca tenhamos vivido de fato. Somos apenas, e tão somente, sobreviventes de um mundo doentio.
No campo da filosofia sobre o dilema, gosto das palavras de Schopenhauer, célebre e controverso filósofo alemão do século XIX, que em sua obra ""O Mundo Como Vontade e Representação" tratou do sentido da vida e de suas peculiaridades de forma profunda e fundamentada, sobretudo, pelos estudos de Kant. Segundo o filósofo existencialista:

Se olharmos a vida em seus pequenos detalhes, tudo parece bem ridículo. É como uma gota d`água vista num microscópio, uma só gota cheia de protozoários. Achamos muita graça como eles se agitam e lutam tanto entre si. Aqui, no curto período da vida humana, essa atividade febril produz um efeito cômico.

Sim, é impressionante as conclusões que podemos tirar da vida ao observá-la com cautela e paciência.

Inicialmente, ainda crianças, já em nossas primeiras impressões da vida, somos condicionados a perseguir sonhos construídos por pessoas que não conhecemos. Ainda criança, você aprendeu que para viver bem, é necessário ter um bom carro, uma boa casa e um bom emprego. Qualquer posicionamento para a sua vida, que não tenha esse objetivo, é considerando um modelo de fracasso.
Já na adolescência e em parte da juventude, você é apresentado ao primeiro estágio da luta pra conseguir seus objetivos impostos pelo padrão social. Você estuda em um ambiente segregador, que visa tão somente o mercado de trabalho, em um processo mecânico de ensino, para adquirir competências que culminam em uma prova que não testa sua capacidade como ser pensante, mas sim, sua habilidade em guardar teorias e informações prontas. E nesse ambiente, durante todos os anos, você é ensinado a manter relações de amizade. Porém, aprende também, que seus colegas são seus concorrentes, e você, caro sonhador, está em uma disputa feroz por uma vaga em uma universidade, que lhe renderá uma grande chance de ingressar no mercado de trabalho, e aí sim, ter a possibilidade de adquirir os sonhos que foram depositados em sua mente desde criança.

Agora, já adulto, você deve ser formado em uma boa faculdade, e adquirir o primeiro passo do seu sonho doentio: um bom emprego. Médico, advogado, engenheiro, dentista, psicólogo, etc. Você já tem uma formação condicionada a atuação em áreas inflexíveis. Qualquer coisa além disso, é um fracasso. E trabalhando por anos, você adquire um carro, e por mais alguns anos, uma casa. E enfim, você conquistou seus sonhos. Agora, pode usufruir de sua conquista.

Mas, me diga: quantos anos até isso acontecer? Como está a sua saúde no fim desse processo? Em todo este processo, você viveu? No meu caso, sinto afirmar aos meus amigos e familiares, mas a resposta é NÃO. Tudo que fiz, e ainda farei, faço suficientemente para sobreviver em um mundo onde o roteiro da minha vida foi escrito por uma convenção da qual nunca participei. Dia-após-dia, eu sobrevivo, e lamento muito, a falta de respeito que tenho com a minha vida. Eu não à vivo. 

Eu sou o único dono das minhas escolhas. Se for importante para mim ter um emprego respeitado, um carro e uma casa, ótimo, prosseguirei e conquistarei. Porém, se isso tudo me faz infeliz... Qual o sentido da caminhada? Afinal, como diria o ícone da cultura pop Tyler Durden: temos trabalhos que odiamos para comprar coisas de que não precisamos.

Já escrevi antes que o dia em que tentei viver foi o dia mais infeliz da minha vida. Porém, será que realmente tentei viver como se deveria? Esse inconstante autor, por deveras, não sabe responder à tal questão. Mas busco todos os dias, incansavelmente, uma forma que me permita alcançar tal solução.

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