Corte a corda

"E queria sempre achar explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído, fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"

Assim disse a música "Quase Sem Querer" composta por Dado Villa-Lobos e Renato Russo. 

É interessante refletir um pouco sobre esses versos. Em um mundo cuja comunicação é instantânea, relacionamentos são líquidos e rasos, e a pressão sobre o jovem são enormes, sentimos uma dezena de sentimentos que nem sempre conseguimos identificar o que são. Geralmente, sentimentos que doem e nos deixam perdidos em pensamentos perigosos. 

Esse é o meu caso. Talvez seja o caso de milhões de outras pessoas. 

Com vastos sentimentos, sempre procurei buscar algum tipo de explicação. E para isso, expliquei criando um personagem. Nunca acreditei que era eu. Minha mente nunca me deixou acreditar. E como um anjo caído, fiz questão de esquecer quem eu era. 

Eu sempre acreditei que existia o Paulo artista, mórbido, triste, que vive uma crise existencial, que não consegue manter relacionamentos duradouros, que chora, que se autoflagela, se auto-sabota, que sofre. Dessa forma, se utiliza da arte como válvula de escape. Inclusive, escrevendo textos como esse que você, caro leitor, deve apreciar ou depreciar.   

Eu sempre acreditei que existia o Paulo ser humano comum. Esse sim, alegre, divertido, risonho, contador de piadas (sem graça), um cara que vive a vida.

Eu sempre acreditei que esse era eu. 
Contudo, mentir para si mesmo é sempre a pior mentira.

Há alguns dias percebi que tenho tido pensamentos densos, demasiadamente sombrios. O mais estranho é que, olhando para trás, sempre tive tais pensamentos. No entanto, nunca me dei conta que aquilo era eu. 

Não sei como, nem o porquê, mas durante a noite, focado em um desses pensamentos densos e sombrios, como em um choque de um desfibrilador, recobrei minha consciência, e percebi o ponto em que eu estava. As loucuras que eu estava prestes a cometer. E tudo isso, sem nem perceber a gravidade que me encontrava.

Demorei a entender. Mas esse sou eu. Esse sempre foi eu.

O ser humano comum é quem era a máscara, ele é quem era a válvula de escape. Ele é quem não existe. 

Eu sou alguém que, como tantos outros jovens, precisa de ajuda médica. Eu não gostaria de admitir isso para ninguém. E esse é justamente o problema. É por isso que tantos morrem, seja qual for sua condição social. 

Sinceramente, a dúvida me mantém vivo. Mas não quero que seja assim. 

Albert Camus, célebre filósofo francês, disse o seguinte:

"Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia."

Como podemos julgar algo tão subjetivo? É impossível. Tudo dependerá de uma questão meramente relativista. E nesse sentido, nossa razão sempre nos manterá vivo. Entretanto, esse é o ponto crucial da questão: a inexistência da razão em um ataque compulsivo contra si próprio. Voltaire, aclamado filósofo iluminista francês, sintetiza esse pensamento, com certo sarcasmo, é verdade, da seguinte forma:

"Não é que o suicídio seja sempre uma loucura. Mas, em geral, não é num acesso de razão que nos matamos."

A ajuda é necessária. 

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